Os pecados capitais que podem empobrecer
seu filho
Especialista explica quais
são os 10 erros mais comuns dos pais no momento de ensinar aos filhos o valor
do dinheiro – e como evitá-los.
Quem é pai sabe que uma das tarefas mais complexas da vida é a de
educar os próprios filhos. Inculcar em uma pessoa os valores e princípios
éticos que a tornarão alguém melhor pelo resto da vida é um trabalho que exige
dedicação persistente. Um dos temas mais polêmicos em educação é a forma
correta de ensinar os filhos a lidar e a dar o valor correto ao dinheiro.
EXAME.com conversou com Cássia D’Aquino, educadora financeira, palestrante e
autora de diversos livros sobre o assunto, e apresenta abaixo os 10 pecados
capitais na educação financeira das crianças:
1 - Não faça todas as vontades do filho
Essa
é a maneira mais simples de tirar algo muito importante de seu filho que é o
desejo. A criança não deve ganhar tudo porque vai achar que tem direito a tudo.
Mas o principal problema de dar tudo de graça é que, com o tempo, ela vai parar
de desejar as coisas. É o desejo que faz as pessoas levantarem todos os dias e
irem em busca da realização dos sonhos. Um filho que não precisa de nada pode e
vai ficar em casa a tarde toda assistindo televisão. A falta de desejo é a
falta de vida.
Inclusive
os filhos que não querem nada estão mais suscetíveis a comportamentos de risco,
como o uso de álcool ou drogas. Os pais podem perceber isso quando dão um
presente que não foi desejado pelo filho de verdade. A criança vai se
desinteressar pelo brinquedo rapidamente porque ganhou fácil demais. Muitas
vezes, a espera por algo que é muito desejado é tão gostosa quanto a própria
realização do sonho. Os pais não devem tirar o desejo das crianças.
2 - Não crie uma pessoa impaciente
Os
filhos precisam aprender a esperar. Há diversos estudos que mostram que as
crianças bem novas são naturalmente impacientes. Se você pedir para a criança
escolher entre ganhar um chocolate imediatamente ou ganhar dois daqui a uma
hora, a imensa maioria vai ficar com a primeira opção. Quanto mais velhas são
as crianças, no entanto, maior será o percentual das que escolherão dois
chocolates após uma hora. Parte dessa evolução é explicada pela própria
natureza, mas também há um trabalho que cabe aos pais. São eles que devem
ensinar aos filhos que a recompensa aos pacientes será maior.
E
será mesmo. Os mesmos estudos demonstraram que as crianças que desde muito cedo
são ensinadas a ter uma postura mais paciente ante às dificuldades da vida
serão mais bem-sucedidas após alguns anos. Essas crianças terão melhores
empregos e conseguirão poupar com mais facilidade. Não é de surpreender. Uma
criança que ainda jovem já demonstra ter capacidade de realizar pequenos
sacrifícios tem tudo para alcançar seus objetivos quando crescer. Esse é
exatamente o conceito da poupança e dos investimentos. A pessoa adia um consumo
que poderia ser imediato agora para poder comprar bem mais lá na frente.
Uma
forma de ensinar o filho a ser paciente é comprar com ele um doce na padaria e
só deixá-lo comer em casa, por exemplo. Ou então fixar uma data futura para
comprar determinado presente e marca-la no calendário. Toda vez que ele ver a
marca vai se lembrar que o desejo será realizado em mais algum tempo. Não é
necessário transformar isso em nenhuma forma de tortura. Acredito que é
possível desenvolver a paciência de uma maneira natural, sem provocar
sofrimento.
3 - Não ceda a pressões
Toda
criança um dia vai se jogar no chão de uma loja ou supermercado e começar a
gritar para coagir os pais a lhe comprar algo. Neste momento, qualquer um
instantaneamente se tornará o centro das atenções e morrerá de vergonha. Mas
quando isso acontecer, não ceda à pressão. Pelo contrário, levante seu filho
(que provavelmente estará se contorcendo no chão), lhe dê um abraço e diga com
firmeza que ele não vai ganhar o presente se continuar a agir dessa maneira.
Não
se intimide se ele continuar a gritar. Boa parte dos pais cede nessa hora
porque sente uma espécie de remorso por não ter muito tempo a dedicar aos filhos.
Com o pai e a mãe trabalhando como loucos, é natural que eles queiram
transformar o tempo que passam com os filhos em momentos de extrema felicidade.
Educar os filhos corretamente, entretanto, é bem diferente de atender a todas
as vontades. Não se sinta pressionado a fazer nada apenas para compensar sua
ausência.
4 - Não remunere seu filho por qualquer
coisa
Com
dois ou três anos de idade, os filhos começarão a demonstrar uma grande vontade
de trabalhar. O filho verá a mãe lavando a louça e o pai fazendo o churrasco e
se oferecerá para tomar parte das tarefas. É correto que, neste momento, que os
pais estimulem os filhos a tomar essa atitude proativa. Deixe-o passar o
aspirador no carpete se essa for sua vontade. Crianças adoram água. Se eles
quiserem lavar a louça ou o quintal, ensine-os a cumprir a tarefa de maneira
segura.
Lembre-se
que crianças com pouca idade sentem muito mais falta da atenção dos pais do que
de dinheiro. Então não ofereça de imediato uma remuneração pelas tarefas. As
crianças farão esse tipo de coisa com enorme satisfação apenas para ouvir
elogios dos pais ao final. Mais para frente, não haverá problemas em oferecer
algum tipo de remuneração para que o filho cumpra determinadas tarefas. Eu não
estou falando de lavar a louça ou arrumar a cama. Esse tipo de tarefa que todos
os demais integrantes da família fazem de graça não deve ser remunerado também
no caso da criança. Já aquelas tarefas que o pai pagaria mesmo para alguém
fazer, como lavar o carro ou cortar a grama, podem perfeitamente ser
remuneradas.
O
filho pode com isso aprender o valor do dinheiro. Quando um adolescente pedir
um novo jogo de videogame que custa 100 ou 200 reais, não dê imediatamente a
ele. Ao invés disso, ofereça uma lista com tarefas que podem ser realizadas e
que lhe renderão uma remuneração. Não estou dizendo que os filhos não têm
direito a um bom presente de Natal ou de aniversário. Mas acredito que não dar
de graça pequenos mimos ajudará os filhos a aprender que dinheiro não cai do
céu, mas que, com um pouco de esforço, é fácil consegui-lo.
5 - Não compita com os pais dos amigos
Se
seu filho tiver algum coleguinha na escola que, com cinco anos de idade, já tem
um iPhone, saiba que isso não é algo anormal. O consumo evoluiu, e as crianças
de hoje em dia ganham presentes muitos mais sofisticados que antigamente. Mas
não se sinta tentado a também dar um iPhone apenas para que ele não se sinta
inferiorizado. Da mesma forma, não queira pagar uma festa de aniversário de
50.000 reais para o filho apenas para que ele possa parecer mais amado pelos
pais que os amigos. As crianças com pouca idade ainda não sentem inveja umas
das outras. Elas até podem desejar ter um videogame de última geração igualzinho
ao de algum amiguinho, mas não vão sentir raiva por não ter aquele objeto.
Dar
um iPhone para uma criança de cinco anos não é racional porque ela ainda não
saberá nem precisará usá-lo. Da mesma forma, é possível fazer uma festa de
aniversário inesquecível para ele gastando muito menos dinheiro. Agindo de
outra forma, você não estará dando nenhuma lição ao seu filho. E ainda correrá
o risco de transformá-lo em um consumista extremo.
6 - Mesada é bom – quando paga da
maneira correta
O
problema da mesada é a forma como ela é paga. O intuito da mesada é ensinar a
criança a desenvolver a noção do valor do dinheiro. O filho terá de aprender a
tirar o maior proveito possível daquela quantidade de dinheiro. Uma coisa que é
importante os pais saberem é que dar dinheiro uma vez por mês não é o mais
adequado para crianças ainda pequenas, de oito anos, por exemplo. Nessa idade,
os filhos ainda não saberão se planejar para o mês porque 30 dias é um período
muito longo de tempo. Recomendo aos pais dar um valor semanal para os filhos
que só deve se transformar em mesada a partir dos 11 ou 12 anos.
Outro
erro comum em relação à mesada é vincular aquele valor ao bom comportamento. O
pai diz que só vai pagar a mesada se a criança parar de aprontar na escola. Não
acho que o dinheiro deva ser uma moeda de troca na educação dos filhos. Há
outras formas melhores de ensinar as crianças. Outro problema é a criança achar
que tem o direito de gastar o dinheiro como quiser. Mesada não é obrigação. O
pai tem o dever de orientar a criança no bom uso dos recursos.
7 - Não tente discutir tudo
Muitos
pais se sentem tentados a colocar em debate decisões financeiras que envolvem
toda a família, mas se esquecem que crianças muito novas ainda não estão em condições
de enxergar o melhor caminho. O debate excessivo pode se tornar um problema
porque, com o tempo, a criança pode começar a querer tomar as rédeas da
situação. No dia em que for contrariado, o filho poderá, por exemplo, dizer ao
pai que ele é chato. Qualquer adulto vai sentir um baque na primeira vez que
ouvir isso. Mas algumas vezes, será necessário dizer ao filho que ele terá de
fazer algo simplesmente porque o pai está mandando.
8 - Não tente adestrar seu filho
Uma
vez ouvi o relato de uma executiva que estava naquele processo de tirar as
fraldas da filha. Sei perfeitamente que algumas crianças têm mais dificuldade
nessa fase. Os pais devem encarar isso com naturalidade porque, afinal de
contas, os filhos acabam aprendendo. Mas essa executiva contou que a técnica
que estava sendo empregada era a de dar uma bala à filha a cada vez que ela a
chamava para fazer xixi no pinico. Já quando ela fazia cocô, ganhava duas
balas. O problema é que esse é o condicionamento de Pavlov. Os pais devem
educar os filhos, e não adestrá-los. Desse jeito, quando crescer, a criança só
vai atender as vontades do pai se ganhar algo em troca. Não é a forma correta
de educar uma criança.
9 - Não confunda empresa com família
Uma
vez dei consultoria financeira para o diretor de uma empresa e ele queria saber
por que as mesmas coisas que ele fazia na empresa para estimular seus
funcionários não funcionavam com o filho. Ele prometia ao filho de três ou
quatro anos um bônus por bom comportamento. E não era só isso. Ele também
produzia relatórios diários sobre como o filho estava agindo. É lógico que o
cérebro de uma criança não funciona como o de um empregado. Não tinha como dar
certo. O conselho que dou é que o pai dedique ao filho um tratamento condizente
com o contexto da família.
10 - Não adianta pedir para a criança
fazer algo totalmente diferente dos pais
fonte Exame.com - Seu Dinheiro
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